Uma cultura doentia das igrejas.
Ontem a notícia de um possível suicídio de um colega de ministério me levou a refletir bastante sobre tudo o que envolve o ministério pastoral. O privilégio, as oportunidades, as alegrias e as bênçãos, mas também me fez pensar bastante nos desafios e dificuldades inerentes a este chamado.
Ontem a notícia de um possível suicídio de um colega de ministério me levou a refletir bastante sobre tudo o que envolve o ministério pastoral. O privilégio, as oportunidades, as alegrias e as bênçãos, mas também me fez pensar bastante nos desafios e dificuldades inerentes a este chamado.
Pensei nesses desafios entristecido por perceber que muitos deles poderiam ser minimizados ou até mesmo inexistentes se alguns aspectos da cultura que rege o ministério pastoral fossem transformados ou abandonados.
Infelizmente a cultura é pensar que o pastor não pode ter amigos, que os relacionamentos dele na igreja devem ser todos iguais, que ele não pode ter pessoas dentro da igreja com quem ele possua mais afinidade e liberdade para se abrir, aliás se abrir e falar sobre seus pecados e fraquezas é algo que também não é admitido nesta posição, o pastor precisa passar a ideia de que ele está em uma posição superior e se ele ousar buscar ajuda, compartilhar pecados e/ou fraquezas ele corre um grande risco de ter tudo o que ele disse sendo usado, às vezes de maneira maldosa, contra ele.
Pouco tempo atrás ouvi de um candidato ao ministério que ele havia sido alertado por pastores e professores de seminário que a vida pastoral é necessariamente uma vida de isolamento e que ele e sua esposa não poderiam gozar de amizades sinceras e prazerosas na comunidade em que estivessem servindo. Esta é a cultura imposta em muitas igrejas, e que se alastra, à medida que seminaristas já saem do seminário alertados e com medo de tentar fazer algo diferente.
Isso leva muitas esposas de pastores a terem que conviver com dois maridos, o homem perfeito que pastoreia a igreja, e o real com quem ela convive diariamente, isso é terrível.
Este é apenas um aspecto da triste cultura que se instalou em muitas igrejas, eu poderia citar ainda o fato de muitos pastores não serem pastoreados, de muitas esposas de pastores serem pressionadas a servir na igreja como se trabalhassem em tempo integral na mesma, poderia citar os salários extremamente baixos que a esmagadora maioria dos pastores recebe e a visão de muitas igrejas de que o pastor está no ministério e por isso pode sofrer e não deve nunca poder dizer não aos caprichos dos membros.
Queridos, essa cultura precisa mudar. Membros de igreja precisam se arrepender da expectativa irreal que colocam sobre seus pastores, precisam amá-los de fato proporcionando aos seus pastores oportunidades reais de descanso, treinamento, capacitação, sustento e aconselhamento. E nós pastores também precisamos nos arrepender e buscar ajuda, quando a vontade de sair correndo vier, precisamos correr para Cristo e para amigos que possam nos aconselhar, exortar e encorajar. A Bíblia nos ensina que "Aquele que se isola busca interesses egoístas e se rebelou contra a sensatez", isso incluí a todos nós pastores que nos isolamos e vivemos como se não precisássemos de mais ninguém.
Deixo para todos nós a recomendação do livro do Paul Tripp "Chamado Perigoso", e aqui vai um dos muitos trechos deste livro que ainda tem me feito pensar e repensar posturas e ações:
"Pastor, você tem dito para você mesmo que está tudo certo, que é parte do seu chamado viver em isolamento? Quem te conhece bem o suficiente para te falar a verdade quando você precisa ouví-la? Quem trabalha para te proteger de você? Quão acurada é a visão do corpo de Cristo quanto a quem você realmente é? A cultura da sua igreja te deixa confortável para confessar seus pecados? Você tem medo de se abrir em ambientes de ministério? Sua esposa vive com a dor das diferenças entre o homem público e o privado?"
Que Deus nos dê graça!
por Pr. Felipe Niel
Publicado com a autorização do autor
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